segunda-feira, 14 de outubro de 2013


à beira do rio capibaribe 

o mendigo dormia na rua 
e era poeta. 

todo poeta é meio mendigo, 
todo mendigo é meio poeta. 
mas esse nem lápis e papel 
tinha: escrevia no vento 
e a ele já não pertencia. 

porque eterno é o que passa. 

tinha o barulho dos carros
como canção de dormir, a maresia 
do rio como cobertor e as estátuas 
dos outros poetas como companhia.

era poeta. não era ladrão. 
só roubava um pouco dos que 
passavam, através da poesia 
que parecia intocável neles mesmos 
e só alguém como ele conseguia tocar. 

tentava conversar. 
era mendigo. não era louco. 
eles apressavam os passos. 
então só conversava com as estátuas. 

mas adeus, joão cabral de melo neto. 
adeus, capiba. 
adeus, clarice, manuel e chico. 

tiraram a vida do poeta. 
dentro de uma cidade tão grande 
ninguém quer saber quem a bicicleta 
encostada no muro espera voltar.

talvez só as estátuas sintam 
que aqui já não há o mendigo 
que escrevia verso no vento.

e estátua não será feita.

agora sempre tem algo de 
céu refletindo na maré.

mendigos não morrem: dormem na lua.

12 comentários:

  1. Lindo!!

    Gostei bastante... Coincidência ou não, mas estava pensando em algo acerca de mendigos ontem, não com essa poesia, apenas pensava que eles parecem ser muito sozinhos, e alguns recorrem ao álcool tavez com esperança de fugir um pouco dessa solidão...
    Ah! Moro em uma das cidades que é banhada pelo Capibaribe Mirim, pena que o rio é quase tão sozinho quando o mendigo e talvez ainda mais maltratado. Hoje é mais sombra do que rio.

    Beijo grande

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  2. Limerique

    Era um poeta perfeito, amigo
    O qual nesses versos bendigo
    Compunha para o vento
    Que sorvia como alimento
    Mas na rua morava, era mendigo.

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  3. Domem na lua, onde recebem a luz azul, branca, amarela... abraços

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  4. Os mendigos guardam histórias próprias e a dor de viver nas ruas pode desenvolver dois lados: a dureza ou a poesia na alma. Fico também com a lua. Um abraço!

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  5. Era realmente poeta deixou ao solhos atentos seu canto se melancolia.

    Muito bom!

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  6. é vero.. Isso de todo poeta ser mendigo...
    Lindo e raro poema.

    bjo de luz
    =)

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  7. Olá, como está?

    Não sei se se recorda de mim, sou a autora do blogue "Não procurei pelos teus olhos", pus esse blogue privado pois faz parte do passado e criei agora um novo, ei-lo:

    http://odesassossegodosilencio.blogspot.pt/

    Quando puder, e se quiser, visite. é muito bem-vinda.

    Andei afastada deste mundo mas agora pretendo voltar e começar de novo a entrar no ritmo dos blogues, lendo as novidades, comentando e etc. :)

    Beijinho



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  8. Apaixonada!

    todo poeta é meio mendigo,
    todo mendigo é meio poeta.
    mas esse nem lápis e papel
    tinha: escrevia no vento
    e a ele já não pertencia.

    Beijos e Abraços!

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  9. Já te disse o quanto acho esse poema lindo, mas nunca é demais repetir: Brilhante!

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  10. sensacional!

    MUITO bom mesmo.

    a exatidão da afirmativa, todo mendigo tem um pouco de poeta, e vice-versa.. é sobre a desimportância daquilo que não é palavra. contém ambos!

    ;*

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  11. sigamos espiando e contando bobagens. talvez o mundo se mude pra mais perto.

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