domingo, 11 de agosto de 2013

minha vó não sabe
mas andando
do quarto
pra cozinha
pro banheiro
pra sala
pro terraço
pro quintal
e indo comprar pão,
ela não me leva
mas me traz
algo que nem ela
sabe que tem.

minha vó não sabe
mas sou uma árvore
que cresce dentro de casa.
feito aquelas plantas
que surgem de dentro
das casas abandonadas
e saem pelas frestas
das janelas, portas e paredes.
mas vó, nossa casa ainda
não está abandonada.
então o quê, aqui, foi abandonado?

minha vó não sabe
e até acha que enlouqueci,
mas quando paro
para fotografá-la,
paro e prolongo
o tempo dela no retrato.

eu sei que
meus galhos não abraçam
e minhas folhas não beijam.

minha vó sabe de muita coisa,
mas o que ela não sabe
é que encontrar poesia no outro
também é uma forma de amar.

e isso eu não sei
quando ela saberá. 

19 comentários:

  1. Limerique

    Queixar-me da vida aqui não cabe
    E não desejo que tudo se acabe
    Dela sou só um galho
    Aprecio seu trabalho
    Mas minha árvore avó tudo sabe.

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  2. - ela sabe.
    e você poderá ver nas fotos, que ela sempre soube, quando o tempo passar.

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  3. Lindo. Linda. Acho que é uma grande dadiva. Pena que não cheguei a conhecer os meus.

    Das fotografia, quanto poesia em seu olhar. Como estudante, amador, e fez ou outra pesquisador. Amei. E Gostei do seu olhar. Beleza que conforta a alma.

    Grato por saber, e por você ter compartilhado. Quando a ela sabe, talvez se algum dia você mostra para ela, ela vai amar, e vai saber do seu amor em palavras/letras. Que encheram e confortaram um tanto de gente um tanto desconhecidos nesse mundo virtual gigantesco.

    Abraços e até.


    Chico.

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  4. Conheces o "Dias com meu pai" do Phillip Toledano?

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  5. Minha nossa, como "desarrepiar" depois disso?
    Que lindeza tamanha nesta poesia! Gostei muito!
    Parabéns

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  6. Não posso deixar de vir aqui, só encontro flores. Plantas insuspeitas, "plantas que surgem de dentro das casas abandonadas
    e saem pelas frestas das janelas, portas e paredes". Também gosto do musgo dos muros, das velhas paredes antes da demão de cal, que a maculem de branco. Poetiza das palavras calculadas, feita a esquadro, que se amarram feito tijolo.

    "Fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece flores".

    http://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/

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  7. paro e prolongo
    o tempo dela no retrato.
    <3

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  8. Cada um ao seu tempo acha a poesia em si. Mas enxergar nos outros é a raridade.

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  9. Vanessa, inevitável não ter você por perto. Sempre. Linkei tua Filosofia de quinta no meu almatua.blogspot.com

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  10. que poesia linda e sensível. fiquei imaginando se eu tivesse um contato mais pessoal com a minha avó. não tive, fui criada inteiramente pela minha mãe. da avó quase nenhum afeto. das avós, no caso. mas acho muito bonito esse tipo de sentimento, vó é mãe da nossa mãe.

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  11. Árvore não abraça e beija, mas nós podemos, mesmo que na casa da imaginação. Um abraço!

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  12. Meus avôs e avós já se foram e mesmo assim ainda consigo ver poesia neles. Nas pessoas que foram e nas nostalgias que deixaram. Bj

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  13. Lindo demais!! Que bela plantação menina!! Poesia da boa, poesia com "raíz";) bjo

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  14. http://cronisias.blogspot.com.br/2013/08/no-meio-da-vila-onde-os-varais-com.html

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  15. "encontrar poesia no outro
    também é uma forma de amar."

    Acho que encontrei uma forma de te amar...

    Flores!:)

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  16. Coisa mais linda Vanessa. Eu amo esse seu poeminha.

    Beijos.

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  17. "Encontrar poesia no outro também é uma forma de amar."
    Obrigada!

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